Pescaria

Se você procurar em torno do prédio talvez encontre alguma coisa, mas duvido muito, ontem mesmo eu verifiquei tudo. Minha filha pediu pra eu catar umas sementes daquele abacateiro, falou que o professor queria fazer uns trabalhos de colagem, mas você sabe, o gás vai aumentar, leu no jornal? Pois então, eu tava pensando em converter meu carro, mas estou com medo daquele venezuelano. Nem me fale nisso, como é que dizem lá em cima mesmo? Qual o teu nome afinal? Também não precisa ficar nervoso, eu havia escavado bem aqui embaixo da minha mesa, percebeu? Esse cheiro é do barro vermelho, veja que interessante, as minhocas grudam que é uma maravilha, dizem que elas adoram e traciona bem. Agora, quando chove é um desespero pras oligochaetas, porque são não-anfíbias, preste atenção neste detalhe! Nada como um bom anzol nessas horas, coço meu pé só de pensar, dá vontade de sair correndo e lançar a linha ali do morro, sacudir o chão com aquele rapaz olhando pelas frestas da janela, pulando no mar, agarrando o pescoço do Ferdinando, que já estava dormindo, amarrado às cadeiras, agitando barbantes longos, tristes linhas horizontais. Seu grande jumento, saia do meio da rua, com seu instrumento de metal e vidros, triturando e produzindo toda essa poluição desmedida! Pense na família reunida com o rio correndo embaixo das camas, os homens vestidos de bolas de boliche, pois nem todos têm a coragem de levantar da cadeira e rodar, só porque amarram os caniços.

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