A memória é algo fantástico. Conseguimos armazenar uma infinidade de informações. Nomes de pessoas, objetos, endereços, telefones, cálculos matemáticos, dados históricos e tantas outras informações importantes para a nossa comunicação. Quando esquecemos o nome de algum objeto, dá até pra descrever as suas características e comparar com outras coisas, para tentar lembrar o que é. O problema surge quando esquecemos o nome de uma pessoa conhecida, enquanto conversamos com ela. Em ocasiões sociais, uso a seguinte artimanha: se estou falando com alguém do qual não me lembro o nome e minha companheira chega ao meu lado, uso como argumento a antipatia pelas convenções sociais, e falo:
— Ah, odeio essa coisa de ficar apresentando as pessoas, prefiro que vocês mesmos se apresentem.
E assim, quando funciona como o planejado, consigo ouvir o nome da pessoa e não preciso passar pela constrangedora situação de parecer um insensível.
Certa vez liguei para um colega, com quem eu esperava trabalhar em um projeto. Conversamos durante alguns minutos ao telefone e quando fui me despedir, tive um lapso de memória e simplesmente esqueci seu nome. Se eu fosse esperto, poderia simplesmente dizer: “falou, um abraço, a gente se fala”. Mas, como sou muito sincero e querendo ser simpático, falei:
— Esqueci seu nome, como é mesmo que você se chama?
Ele ficou quieto do outro lado da linha durante alguns instantes, provavelmente surpreso, e depois falou:
— Você está brincando comigo, não é mesmo?
Era tarde demais para arrumar, para dizer que era brincadeira. Por isso, fui além. Não satisfeito de ter estragado a conversa, eu piorei ainda mais:
— Não, é sério, esqueci seu nome, deu branco mesmo, mas vou adivinhar, espera aí! Me ajuda aí, vai, qual a primeira letra do seu nome, dá uma dica.
E é claro, ele achou aquilo uma falta de educação. A maioria das pessoas tem grande apreço pelos seus nomes. E, além de esquecer como ele se chamava, eu parecia estar zombando ao tentar burramente ser simpático. Não lembro do restante da conversa, nem se consegui lembrar o nome dele. Aquela foi a última vez em que nos falamos.
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 18/10/08. p.3)