Como vem ocorrendo nos últimos dias, quando acordo, é como se estivesse sofrendo novamente a dor do nascimento. Tenho dificuldade para respirar, minha cabeça dói, a vida é uma droga, não entendo como poderei suportar o peso do meu corpo apenas com o uso de duas pernas e ainda assim acho que terei que treiná-las para que tenham músculos mais fortes, caso contrário cairei ao chão como um edifício com os alicerces fracos. E as coisas não poderiam ficar piores: por baixo da porta de entrada do apartamento, uma legião de formigas se desloca para minha cozinha. Pequenas, mas ágeis e pude contar algumas centenas, que se movimentam como autômatos, como mini-robôs teleguiados, provavelmente equipados com sofisticados sensores visuais que enviam para a base central as imagens do meu apartamento. Para não levantar suspeitas, um grupo delas já faz o caminho de volta com grãos de arroz retirados da minha cozinha. Se forem restos da minha mastigação, eles poderão estar interessados em investigar as minhas enzimas bucais e nem gosto de pensar que tipo de informação conseguirão a meu respeito. Minha respiração fica ainda mais ofegante enquanto me preparo para ligar o lança-chamas.