A TV queimou e então consegui economizar algum dinheiro com a conta de luz. Decidi aplicar essa grana extra na bolsa, pois um amigo estava faturando uma nota preta com este tipo de investimento.
Fui a um escritório para conferir como a coisa funcionava. Logo na entrada avistei um belo letreiro com uma frase inspiradora: “Acreditamos na economia”. O atendimento era VIP: poltronas de couro, ambiente climatizado e cafezinho. Eu estava envergando meu único terno, cheirando a naftalina, que desenterrei do armário depois de cinco anos sem uso.
Chegou a minha vez e fui falar com um dos “conselheiros econômicos”:
— Bom dia, como posso ser útil ao senhor?
— É o seguinte, tenho aqui quinhentas pratas que consegui economizar nos últimos meses e gostaria de aplicar em ações. Um amigo me falou que é um investimento sólido como concreto!
Ele me olhou um pouco desanimado, parecia estar indisposto, provavelmente muita feijoada no almoço:
— Hum, nós temos um limite mínimo para começar a investir e não creio que o senhor se enquadre neste perfil. Sugiro que abra uma poupança. Seria mais adequado.
Saí de lá indignado. Como assim, “seria mais adequado”? Roguei uma bela praga para aquele escritório ridículo. E não é que duas semanas depois as bolsas estavam despencando ao redor do mundo?
Voltei lá para rir na cara daqueles arrogantes. Não colocaria mais o meu dinheiro na mão deles de forma alguma. Enquanto aguardava, ao meu lado algumas pessoas pareciam rezar. A coisa estava desesperadora mesmo para os pobres diabos. Chegou a minha vez e me dirigi ao mesmo rapaz que havia me atendido há duas semanas:
— Vim aqui dizer que agora mesmo é que vocês não terão mais nem um centavo meu!
— Ah, o senhor deve ter cometido algum engano. Antes nós trabalhávamos com ações, mas depois que o mercado quebrou, nós mudamos de ramo. Não somos mais a Capital Entreaberto Investimentos, agora somos a Céu Entreaberto Aconselhamento Espiritual.
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 11/10/08. p.3)