O policial recolhia o depoimento do assassino:
— Que dia ocorreu?
— Dia 8.
— De que mês?
— Março, eu acho…
— Como assim, “eu acho”?
— Março, março.
— Bom!
— Como aconteceu?
— Simplesmente aconteceu.
— Está querendo dificultar?
— Certo, por onde devo começar?
— Primeiro vamos estabelecer o horário.
— Tudo começou lá pelas 10h da noite.
— Foi premeditado?
— Não! Não, em hipótese alguma!
— Continue, por favor.
— Eu estava em meu quarto, quando a ouvi na cozinha, primeiro apenas um leve sussurro, depois um som mais forte que logo se tornou insuportável para mim!
— Então… foi premeditado!
— Bem… puxa vida! Foi!
— Por quanto tempo ouviu seu barulho?
— Por uns 15 minutos, talvez… Não conseguia dormir. Precisava fazer alguma coisa.
— Matou-a para dormir! Seu sono tem o preço de uma vida?
— Eu… Não sei o que dizer. Foi tudo muito rápido. Levantei-me e fui ao seu encalço. Peguei algo próximo da mão, algo com o peso suficiente para o que tinha em mente. Fui até a cozinha, de onde vinham seus ruídos. Ela fazia um lanche noturno como costumava fazer.
— Deus, matou-a enquanto ela se alimentava?!
— Pude vê-la, de costas, enquanto comia um pedaço de pão. Sem pensar duas vezes, levantei o braço e desferi uma forte pancada sobre sua cabeça. Apenas uma pancada foi o suficiente. Ainda pude vê-la, sua expressão de espanto e tristeza. Depois o silêncio. Voltei para a cama e dormi tranqüilo.
— Nem se deu ao trabalho de recolher o corpo! De qualquer forma ocultou o cadáver no dia seguinte, o que aumenta ainda mais sua pena. Nem o melhor advogado poderá lhe salvar. Bem, termine seu depoimento.
— No dia seguinte ela estava lá, na mesma posição da noite anterior. Quando a vi, primeiro senti um grande vazio. Minhas pernas começaram a tremer e precisei sentar, pois não conseguia suportar o peso do meu corpo. Olhei novamente para ela, ali estendida no chão, e senti um grande alívio.
— Acho que você nunca imaginou que encontraríamos o corpo.
— Não, nunca imaginei. Esse foi meu erro.
— Pobre barata, uma vida inteira pela frente e você a destruiu.
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 15/11/08. p.3)
Hehehehe!
Ow, Aleph! teus textos estão perfeitos para fazermos as rádios-teatro no programa da Rádio Campeche. Você empresta eles pra gente?
poxa, pode sim!!
eu queria ler uma das falas, posso?
Ei, conto para ser lido ao som de “compondo”, de Jean Mafra, conhece?
Não conheço não Fábio. Sabes se ele colocou essa pra baixar no myspace dele?