O Centro de Florianópolis foi infestado pelos entregadores de folhetos de propaganda e panfletos eleitorais. Eles já são muito mais numerosos do que as latas de lixo, por isso grande parte dos papéis acaba no chão, a meio caminho entre o seu destino e a paciência de quem os recebeu sem solicitar. Se você quiser evitar os folhetos, pode tentar ser rude com os entregadores, que não fazem mais do que o trabalho deles. Ou, então, pode optar por um trajeto tortuoso, que desvie por trás dos entregadores. O problema é quando eles se aglomeram, para ter certeza que nenhum pedestre fique sem o seu folhetinho. É uma verdadeira operação de guerra que eles empreendem, e você acaba entrando na batalha também, para se livrar deles. Um outro método que funciona quando o braço estendido com o folheto interrompe a sua passagem, é responder educadamente: “Não, obrigado”. Geralmente os entregadores são pegos de surpresa com essa reação, mas você não pode ter certeza que o método é imbatível.
Precisei ir ao edifício Dias Velho consertar meus óculos. Lá é um paraíso de molas, parafusos e todo tipo de peça de reposição para óculos e relógios. Como estava na Praça XV, resolvi me arriscar a atravessar o calçadão da Felipe Schmidt, um dos habitats naturais dos entregadores de folhetos. Respirei fundo e entrei no campo de batalha. A caminhada foi tensa e fui abordado por algumas centenas de folheteiros, dos quais consegui me desvencilhar com maestria. Passei por uma pequena aglomeração deles incólume, na esquina com a rua Deodoro. Depois disso, consegui avançar sem maiores problemas.
Invicto, livre dos folhetos, estava quase chegando à entrada do Dias Velho, satisfeito com a minha façanha. Então, uma sorridente senhora surgiu em meu caminho. Quando tentei me desviar, ela me estendeu a mão com um panfleto e eu o peguei tão naturalmente, desarmado de minhas artimanhas… Quando me recobrei, já no hall do edifício, estava olhando para um panfleto de propaganda política. “Fraquejei e fui derrotado”, pensei com tristeza. Já era hora de rever o meu treinamento de guerra.
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 26/7/08. p.3)
Cara, treinamento de guerra é a palavra exata. De ‘leia sua sorte’ até puteiros, cada batalhão em uma esquina, aprendendo a fazer aquele som alto de papel estalando quando tiram a mesma folha de cima da pilha. Bizarro e medonho.
sem dúvida rafa! e agora, com as eleições se aproximando, aguarde um reforço no exército adversário!