Acabo de reler um trecho de um dos primeiros livros de web-design que comprei, em 1998, e percebo que as coisas mudaram. Apesar das muitas críticas recebidas, Criando Sites Arrasadores na Web foi um importante livro para mim e muitos outros web designer. E acima de tudo tem um importante valor histórico, por documentar uma época em que o design de sites ainda sofria muito com a falta de recursos tecnológicos, em que o CSS estava apenas engatinhando, em que os browsers ainda estavam na 3a versão e o Netscape dominava, em que você precisava tomar cuidado para utilizar apenas 256 cores em gráficos e a resolução mais utilizada ainda era 800×600 (quando não era 640×480). As tabelas reinavam e o método de preencher células com Gif de 1 pixel para posicionar era a técnica secreta do web design. No entanto o trecho abaixo, que me chamou atenção, mostra que nem tudo mudou:
A Web é uma combinação de vários elementos diferentes e em geral incongruentes de provedores de informações e consumidores. Por um lado, temos os estruturalistas. Para eles, uma boa página tem uma marcação perfeita. Eles na verdade possuem programas para “validar” o grau de perfeição com que o conteúdo foi marcado e consideram que isto é importante. De fato, a marcação HTML padrão beneficia os instrumentos de busca, as pessoas com deficiências visuais e os que surfam com as imagens desligadas. O mundo ideal deles consiste de ainda mais estruturas para incluir mais informações sobre o conteúdo (informações extra que descrevem o conteúdo são denominadas metadados), de modo que os instrumentos de busca possam compreender ainda mais seus sites.
Os estruturalistas querem que todos possam acessar o conteúdo da Web com qualquer navegador. Não se preocupam muito com detalhes tipográficos ou a diagramação visual de uma página. Para eles, as páginas são documentos e quando se tem milhões de documentos precisamos de uma estrutura para torná-los indexáveis, pesquisáveis e para poder mantê-los.
Então temos os designers. Em uma extremidade do espectro estão os designers de informação, e na outra extremidade estão as pessoas determinadas a quebrar as regras (por exemplo, Jodi e Superbad) não importa quem eles sejam. Todos os designers querem poder criar uma experiência online. Estão acostumados a trabalhar com programas como Illustrator, Photoshop e PageMaker. Muitos já trabalharam em televisão ou em CD-ROMs com eventos com movimento e com controle de tempo. Eles desejam criar galerias online, jogos, parques temáticos, sites de cinema, canais de TV, zines, centros comunitários – sites da Web que prendam a atenção das pessoas e lhes ofereça diversão, para que queiram voltar a procura de muito mais. Valores chocantes e conteúdos frescos podem ser mais importantes a muitos sites do que uma marcação conferida. Os designers sabem que se as pessoas não consumirem o seu conteúdo, não interessa se está bem marcado ou não.
No meio, temos os clientes e temos os surfistas. Os clientes desejam que seus sites atinjam seu público adequadamente. Poderia eu dizer a uma executiva de marketing da Pepsico que iria me assegurar que o site dela estivesse em conformidade com padrões estritos de marcação estrutural? Ela não se importa! Ela deseja que as pessoas se divirtam em seu site mais do que no site da Coca-Cola. Os surfistas desejam o que quer que estejam procurando – às vezes eles nem mesmo sabem nem se importam. A única coisa consistente que sabemos sobre os surfistas é que eles a querem agora! Estão procurando passagens para viagens, um restaurante, um encontro, uma piada, uma história – ou talvez queiram apenas olhar para belas imagens por um certo tempo. Alguns têm deficiências visuais, alguns têm monitores pequenos, alguns têm monitores grandes, alguns surfam na TV. Alguns possuem modems lentos, outros possuem conexões T1. Os surfistas não são todos estudantes graduados, nem estão todos apenas procurando diversão. São dezenas de milhões de pessoas surfando na Web, e há muitas razões e maneiras para se fazer isso.