Ainda estou aguardando aqueles protetores auriculares que você me prometeu em nosso último encontro. O trabalho dos mineiros nessa região, com suas britadeiras e bananas de dinamite, produz uma poluição sonora tão ensurdecedora que mal consigo me concentrar enquanto lhe escrevo. Pensamentos e emoções conflitantes: é assim que posso definir a estadia nesse acampamento. Fiquei amargo como um adolescente; misantropo como um velho com uma doença terminal e descrente como um covarde. Agora a pouco quase travei contato com um desses mineiros. Ele estava alegre, até sorridente, você pode imaginar? Quase venci o orgulho para lhe oferecer um cigarro mentolado, mas então lembrei que poderia causar uma bela explosão com os vazamentos de gás nesta área. Então preferi uma abordagem mais conservadora e já estava repassando mentalmente as minhas falas quando o homem foi atingido por uma rocha imensa que desmontou o seu sorriso e cancelou sua respiração em uma fração de segundos. Se eu tivesse estendido o braço para oferecer-lhe o cigarro teria ficado maneta. Livrei-o então do peso de suas botas que confortavelmente calço enquanto lhe escrevo. Mas não tema, nunca desconfiarão de mim, farei a barba e emagrecerei durante a noite.
Muito Bom!!! Estava com saudades de ler estes contos e crônicas.
Abraços,
Véras