Na cidade, vez ou outra você parece estar num labirinto, e não sabe exatamente onde virar, se à esquerda, ou à direita. Pára, dá uma olhada com calma para os lados, procura por placas de sinalização, alguém para pedir informação, mas não encontra nada. Então você toma o caminho que parece o mais fácil e lógico: Vira à direita na primeira esquina, sobe a rua, pega a escadaria, vira novamente, pega o calçadão, passa por dentro da praça, pega a rua de lajotas e num passe de mágica, acaba chegando ao ponto de partida. Você fica espantado, olha em volta para se certificar de onde está e percebe que realmente voltou ao ponto inicial desse labirinto dentro da cidade. Por sorte, dessa vez você percebe um simpático boteco logo ali na calçada do outro lado da rua e decide, antes de tentar seguir um novo caminho, refrescar um pouco a garganta. Senta-se e pede uma cerveja. Bebe sossegado, enquanto observa o fluxo de pedestres. Nesse momento, percebe um homem na calçada do outro lado da rua, estranhamente parecido com você, vestindo até a mesma roupa, parado no mesmo local onde você estava da primeira vez. O homem olha para um lado, olha para o outro, troca um olhar rápido e espantado com você e toma o mesmo caminho que você havia tomado anteriormente. Você fica intrigado com as similaridades. Paga a cerveja e sai apressado atrás daquele homem, que parece a sua cópia. Mas ele vai apressado e você quase não consegue acompanhá-lo. O homem vira à direita na primeira esquina, sobe a rua, pega a escadaria, vira novamente, pega o calçadão, passa por dentro da praça, pega a rua de lajotas e você acaba perdendo o sujeito no final, mas chega ao mesmo ponto inicial novamente. Você olha para aquele boteco do outro lado da rua e lá está aquele homem, estranhamente parecido com você, bebendo cerveja. De repente ele olha para você, como se o conhecesse. Você fica aflito e sai correndo, enquanto percebe que, às suas costas, o homem paga a cerveja e sai em seu encalço. Você vira à direita na primeira esquina, sobe a rua, pega a escadaria, vira novamente, pega o calçadão, passa por dentro da praça…
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 10/01/09 p.3)