No sábado à tarde dei uma volta no centro de Florianópolis e peguei uns livros no lixo, cinco. Havia um pirralho e o irmão catando uns livros, umas bugigangas, tinha uma máquina de escrever elétrica, muito velha. Então pedi pra pegar uns livros e ele falou:
— Pergunta pro meu pai.
— Quem é seu pai?
— Aquele ali em cima do caminhão, com camisa dez
O pai dele e outros caras estavam carregando um caminhão com madeira de uma casa velha em pleno centro, ali na rua paralela à rua do Café Golden Bingo, não lembro o nome da rua. Como falei, era sábado a tarde, por isso havia pouca gente na rua, facilitando a negociação.
Peguei um livro que fala sobre tradução de textos do latim e… bem, esses foram os livros que achei:
BENNATON, Jocelyn. O que é Cibernética – São Paulo: Brasiliense, 1984
CABRAL, Oswaldo R. História de Santa Catarina – Florianópolis: UFSC, 1968
FURLAN, Oswaldo Antônio. Latim para o Português – Florianópolis: UFSC, 1978
OLIVO, Luis Carlos Cancellier de. Direito e Internet: A Regulamentação do Ciberespaço – Florianópolis: UFSC, 1998
ORWELL, George. “A Revolução dos Bichos” – Porto Alegre: Globo, 1984
As informações são reais, a lista está em uma ordem correta como deve ser, ordem alfabética por autor, a menos que… BLAIR, Eric, é o verdadeiro nome de ORWELL, George. Isso voltaria a unir o ano de 1984 (por coincidência o título de outro romance maravilhoso do autor em questão). Da forma como a lista está aí em cima os 84s estão no início e no fim da lista, a cobra que morde o próprio rabo, um ciclo fechado, mas com um fato intrigante, que chama a atenção: temos o mesmo ano de três décadas diferentes: 60, 70, 90. O livro de OLIVO parece não pertencer ao conjunto, ou estar deslocado, levando em conta nossa maneira normal de perceber o universo cronologicamente coerente! Tenho duas possíveis soluções para resolver o problema: retirar o volume de OLIVO da equação ou tentar entender e me aprofundar nesta anomalia cronológica. Afinal, tenho o volume “O que é Cibernética”, o termo raiz, origem etimológica de Ciberespaço:
[Do gr. kybernetiké, i. e., téchne kybernetiké, ‘a arte do piloto’.]
S. f.
1 – Ciência que estuda as comunicações e o sistema de controle não só nos organismos vivos, mas também nas máquinas.
Além disso, não podemos esquecer mais uma conexão do volume de OLIVO com o resto do conjunto: UFSC. Dois outros volumes da UFSC também têm uma interessante conexão: os Oswaldos! Dois assuntos diferentes, uma década de distância. Capa do livro de FURLAN: em primeiro plano o arco de Titus Flavius Vespasianus, erguido em 81 a.C. para comemorar a tomada de Jerusalém. Em segundo plano, o Coliseu, inaugurado em 80 d.C. Altura: 48,5 m; circuito externo 52 m; eixo maior 187,77 m; eixo menor 156,65 m. capacidade para 50 mil espectadores…
O sobrenome dos dois Oswaldos tem seis letras, sendo que três delas em comum, sendo que estas três letras comuns estão juntas nos dois sobrenomes, mais em formações diferentes: RAL em 68 e RLA em 78, o R foi a única letra que permaneceu na mesma posição nas duas formações.
“1984”, de BLAIR, foi escrito em 48, ele simplesmente inverteu a década para dar título à obra, que fala sobre o totalitarismo tirânico que, na época, se espalhava por vários pontos do planeta. Mais uma década terminada na unidade “8” para nossa equação.
Inicialmente eu desejava manter a equação dentro dos cinco volumes achados, mas pensei: “e se o elo com outras obras que eu possuo for tão forte que seja inegável ignora-lo?” Pois bem, foi o que ocorreu! Consegui adicionar mais um importante componente na equação com o seguinte título que tenho em casa:
BUSSARELLO, Raulino. “Dicionário Básico Latino – Português” – Florianópolis: UFSC, 1988.
Que apesar de não se encaixar cronologicamente e alfabeticamente na lista ao mesmo tempo, tem mais elos de ligação com outras obras do grupo, como mostra o texto abaixo:
“Raulino Busarello, em colaboração com o Prof. Dr. Oswaldo A. Furlan é autor da ‘Gramática Básica do Latim’ (Editora da UFSC, 1993). Em 1988 editou o ‘Dicionário Básico Latino – Português’ e, ainda a 1ª edição de ‘Máximas Latinas para o seu dia-a-dia’, cuja segunda edição foi lançada em Maio de 2000”.
Finalmente cheguei a mais um intrigante título, que também tenho aqui em casa, e que estou certo, tem um papel fundamental na equação:
GIBSON, Willian. “Neuromancer” – São Paulo: Aleph, 1984.
Bem, bem, cheio de links interessantes neste último volume! Neuromancer é um dos principais títulos que deram origem e forma a literatura “Cyberpunk”. Além disso, GIBSON cunhou o termo “ciberespaço” neste livro! Vamos à última boa e grande coincidência: Gibson nasceu em 1948, ano em que foi escrito “1984”, e em 84 foi publicado “Neuromancer”. ORWELL escreveu uma metáfora da opressão pública e uma advertência à humanidade do porvir. Ele descreveu um futuro onde os sentimentos são proibidos e vigiados. Enquanto isso GIBSON fala de um futuro (já não mais tão futuro assim) onde os veículos de comunicação despejam toneladas de dados sobre os nossos sentidos, diariamente, onde conhecimento é o maior poder. GIBSON aborda questões importantíssimas, relativas à percepção da realidade.
Achei muitas outras informações pertinentes nos volumes encontrados, como, por exemplo: na página 365 de “História de Santa Catarina” há um anexo chamado “Representação da Colônia e da Província na Câmara Temporária” item 13º: (1867-1868) João de Souza Melo e Alvim. (Barão de Iguatemi).
A família de minha mãe briga há muitos anos por umas terras (meus pais moram em parte dessas terras atualmente), através da lei de uso capião. Esse barão filho da puta é um daqueles que vieram para cá e simplesmente proclamaram que a terra era sua, mesmo sem nunca ter visitado. Meu avô morou nestas terras desde que nasceu até sua morte.
Bem, eu poderia vasculhar muitas outras conexões entre os cinco volumes encontrados, mas creio que nunca chegaria a um fim se me dispusesse a um trabalho extensivo, 365 dias por ano, trancado em meu escritório, tentando explicar toda a realidade através destes livros. Quis apenas mostrar com esta breve análise que qualquer volume que pegarmos nas mãos conterá algo valioso, nenhum livro pode ser subestimado. Tudo está em tudo, as idéias se repetem como um interminável “Anel de Moébius”. E, se tudo é tudo, tudo é nada, ou algo muito pequeno, mas que contém todo o conhecimento de todas as épocas. Como a matéria do coração das estrelas, que tem a massa tão compacta e densa que seu peso é enorme. Diz a física quântica que todo o universo conhecido está se contraindo, e isso irá acorrer até ele ficar compacto em uma partícula minúscula, infinitesimal, mas ao mesmo tempo com toda matéria do universo. É comprovado também que quanto mais fundo penetramos na matéria, quando mais possante um microscópio, mais espaço vazio ele encontra nos materiais. A matéria seria algo como 99,9 % espaço vazio.
tudo bem que tudo esta contido em tudo, mas tu teve sorte de encontrar tãos bons livros no lixo. de bibliofilo para bibliofilo. algum tempo atrás morreu algum bibliofilo, e ouve uma pequena corrida nos sebos da cidade para encontrar sua preciosa coleção. tenho alguns exemplares aqui, são livros todo sublinhados, com lápis de varias cores.
João, seu relato é curto, mas interessante. Dá pra escrever um belo conto sobre a corrida atrás desses livros as mensagens secretas escondidas nos trechos sublinhados.