Faz muito tempo que tenho antipatia por essas sacolas plásticas de mercado, antes mesmo das modas ecológicas. Tento utilizar nestes grandes supermercados a minha própria sacola de compras, a mesma que uso na feira, ou então a minha mochila, mas geralmente os seguranças pedem para deixar no guarda-volumes. Então acabo me rendendo às sacolas plásticas, porém procuro utilizar o mínimo possível, enchendo cada uma delas com grande quantidade de produtos. No entanto, os funcionários encarregados de empacotar a mercadoria dos clientes estão sempre próximos. Prontos para ajudar, eles utilizam uma sacola para cada produto. Não os culpo, provavelmente são alguns clientes que gostam de colecionar sacolas e fazem com que eles se comportem dessa forma.
Então, quando chega um dos empacotadores, eu o cumprimento sorrindo e digo educadamente: “pode deixar que eu mesmo arrumo, obrigado”. E eles se mostram assustados, por exemplo, quando coloco em uma mesma sacola um pacote de papel higiênico e um suco de laranja. Oras, os dois produtos já estão em suas embalagens próprias e o papel higiênico ainda não está utilizado, portanto qual seria o problema de colocá-los juntos?
Mas esta solução estava se mostrando cansativa, pois assim que o empacotador ia embora, surgia outro e se eu repetia o despacho, depois vinha outro e mais outro, até que o próprio caixa, impaciente com a cena, falava: “ele não quer ajuda”. Então passei a utilizar outro método, com o qual me incomodava menos, mas que devia incomodá-los mais. Não protestava enquanto o primeiro funcionário que aparecia começava a empacotar os meus produtos. Depois que ele saía, eu reempacotava tudo novamente, jogando para o lado o excesso de sacolas. Os caixas ficavam me olhando com cara de espanto enquanto eu executava calmamente o processo. Deviam me achar um chato, não tenho dúvidas. Minha próxima ação seria ir às compras vestindo uma camiseta que eu havia preparado, com os dizeres em letras grandes: “Deixe que eu mesmo empacoto!”. Minha surpresa foi o caixa me perguntar outro dia se eu não queria adquirir algumas sacolas retornáveis. Será que as câmeras registraram meu comportamento ou as coisas começaram a mudar?
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 14/6/08. p.3)