— Oi, Rubens, tudo bem contigo, querido?
— Infelizmente não, Lúcia! Minhas costas doem; minha barba está irritando meu rosto; estou com dor de barriga há alguns dias; sem dinheiro e sem trabalho. Tirando esses imprevistos, estou bem, ou pelo menos, vivo.
— Bem… Puxa… É assim mesmo, a vida é cheia de altos e baixos, também tenho os meus problemas.
— Sério?
— Claro! Por exemplo, estou com uma unha encravada neste momento, sei que não parece um grande problema, mas acredite: meu pé está doendo pra caramba, mas estou me esforçando para ignorar a dor.
— Melhor cuidar disso. Uma vez a minha tia Bilica estava com uma unha encravada. Era uma mulher forte e suportava a dor corajosamente, nunca deixando de usar seus belos sapatos por causa da unha. Mas a situação piorou, ela foi ao médico e ele disse que ela teria que arrancar a unha. Ela ignorou a opinião do médico e sua situação agravou-se. Resolveu então procurar outro especialista e obteve um diagnóstico ainda mais macabro: “A senhora terá que amputar o dedão do pé”! Depois de um mês tomando um coquetel de analgésicos para suportar a dor, nossa tia resolveu procurar por uma terceira opinião. Naquele mesmo dia, ela foi à nossa casa e relatou para a família sua última consulta: “Esse novo médico é o mais louco dos três. Disse que o problema deveria ter sido tratado antes e que a única solução no momento é amputar meu pé”. Falou isso e soltou uma gargalhada estridente enquanto nos deixava pensativos sobre sua sanidade. Seis semanas depois, tia Bilica morreu de gangrena. A autópsia constatou que os tecidos do pé estavam completamente necrosados e o problema havia se alastrado por toda a perna.
— Nossa, agora fiquei com medo Rubens, nunca imaginei que uma unha encravada pudesse dar tanto problema!
— Nem eu, até ver tia Bilica deitada no caixão com aquela perna podre.
— Bem, foi bom te encontrar depois de tanto tempo Rubens, espero que você consiga resolver todos os seus problemas. Se precisar de alguma coisa, não deixe de entrar em contato comigo, viu?
Lá se foi Lúcia, praticamente correndo de Rubens. E aquilo o fez refletir: será que ele tinha uma conversa tão chata assim?
(publicada no Plural do Notícias do Dia, 08/11/08. p.3)