Exobiologia

Meu pai sacode o jornal e olha para mim, concentrado atrás do balcão da oficina eletrônica enquanto tento conectar dois malditos microfios:

— Você sabia que o barbeiro de Neil Armstrong vendeu as mechas de cabelo dele para um colecionador fanático por 3.000 dólares e depois Neil processou o barbeiro e pediu que devolvesse ou o cabelo ou o dinheiro e como o barbeiro não conseguiu o cabelo, teve que dar o dinheiro a Neil, que doou para a caridade?

Respondo sem soltar o ferro de solda de estanho:

— Pai, desculpe não ter respondido sua carta antes. Você me pegou desprevenido e como sabe demoro muito para me decidir, para saber exatamente o que falar. Somos máquinas capazes de fazer certas combinações… Por que devo ler todos esses teóricos? Eu sabia que não deveria consultar tudo isso antes de escrever. Essa conversa infinita, esses pontos de convergência. Um dia assisti à defesa de uma tese e o réu falou disparates engraçadíssimos que quase me fizeram rir lá na retaguarda. Essa teia de relações que tento entender.

O velho fecha o jornal com calma, levanta da poltrona e sai em silêncio. Quando está na porta da oficina, para calmamente e olha para mim, que finjo me entreter com a soldagem dos fios. Coloca o jornal embaixo do braço e fala calmamente, antes de limpar o pé no capacho e me deixar com minhas dúvidas e eletrodos:

— Sempre disse que você deveria estudar exobiologia ou astrofísica.

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